Metamorfose Mexicana Ambulante

Juan Carlos Osorio

O México é “calientemente” apaixonado por futebol. É um dos países que mais levam torcedores às copas do mundo. Mas a seleção tricolor (La Tri) faz de tudo, tudo mesmo, para superar as oitavas de final e não consegue (só chegou lá quando sediou as Copas de 70 e 86). Nos últimos seis mundiais superou a fase de grupos e caiu logo depois. Vale sempre a máxima “jogou como nunca e perdeu como sempre”. Não que isso seja exatamente verdade. É agora que o time pretende realmente “jogar como nunca”.

A aposta no técnico colombiano Juan Carlos Osorio é para isso. Ele marcou seu nome no futebol sul-americano dirigindo o Atlético Nacional de Medellín. Resgatou o gigante verde e branco para o cenário internacional com um estilo ousado e irreverente, em constante transformação.

As diferenças vão muito além dos recadinhos que marcaram pejorativamente sua rápida passagem pelo São Paulo. Osorio não repete escalação, tira os jogadores de suas posições de origem, muda o sistema tático ao longo dos jogos, usa todos os atletas do elenco, enfim, sai do lugar comum dos técnicos tradicionalistas.

Tal postura confunde a cabeça da torcida e da imprensa antiquada e este parece mesmo ser o objetivo. Osorio não quer acomodação de ninguém. Se conseguir transformar o time em vencedor entrará para a história. Se cair nas oitavas, será apenas mais um.

Classificação tranquila 

torcida mexico

A caminhada rumo à vaga na Rússia (conquistada com três rodadas de antecipação) foi muito tranquila se comparada à que trouxe os mexicanos ao Brasil. A continuidade de Osorio foi fundamental para isso. Os dirigentes mexicanos aprenderam com o sufoco da última classificação e não trocaram seis vezes de treinador durante as eliminatórias como haviam feito quatro anos antes. E podiam ter mudado pelo menos uma vez.

Em 2016 o México viveu um drama parecido com o do Brasil em 2014. O time foi eliminado da Copa América Centenário após uma goleada de 7 a 0 para o Chile. Jogava praticamente em casa (California) e foi humilhado. O cenário mais óbvio era a demissão do treinador. Juan Carlos Osorio caiu na boca do povo da pior maneira possível. Surpreendentemente, ele ficou. E, aos poucos, foi conquistando um mínimo de respeito, embora ainda seja muito questionado.

El Chucky 

lozano

Chicharito, Giovanni dos Santos e o lendário goleiro Ochoa estarão na Rússia, mas o nome do momento no futebol mexicano é Hirving “El Chucky” Lozano. O atacante que no meio de 2017 trocou o Pachuca (antes ajudou o time a ser campeão da Concachampions) pelo PSV e já faz sucesso na Holanda.

No recente amistoso contra a Bélgica (um agitadíssimo empate em 3 a 3), o “Boneco assassino” justificou sua fama ao marcar dois gols e criar a jogada do outro. Seu forte é a enorme velocidade aliada a bons dribles e chutes. É hoje a principal arma ofensiva da equipe.

Lançado nas costas de laterais ou zagueiros é quase imparável. Joga pelos lados do campo: esquerda ou direita. É um terror para os marcadores.

Um time ofensivo, sempre!

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Está no DNA do futebol mexicano. “La Tricolor” joga no ataque. Basta ver os jogos do campeonato de lá, repletos de meias e atacantes sul-americanos. Os times jogam pra cima o tempo todo. Não têm cultura defensiva. O último zagueiro que se destacou por lá, Rafael Marquez, chamava atenção justamente pela capacidade de sair jogando e não pelo seu poder de marcação. Chegou até a jogar no Barcelona*.

Os jogadores da seleção mexicana são habilidosos. O cérebro da equipe, Andrés Guardado, agora joga como segundo homem pela esquerda. Seus passes e lançamentos (especialmente para Lozano) fazem o time rodar. Javier Aquino é um ponta esquerda driblador que gruda a bola nos pés e abre as defesas adversárias mesmo em espaços curtos; Corona é veloz e objetivo levando as jogadas ao fundo do campo ou batendo em gol; Vela e Giovani perderam velocidade e intensidade, mas ainda contribuem com inteligência, cadência e capacidade de segurar a bola e criar lances de perigo através de seus passes; Jonathan dos Santos é um motorzinho como volante pela direita – bom passe, condução de bola e força; Chicharito dá mobilidade ao ataque com muita movimentação e boa finalização; Raul Jimenéz é um centroavante alto, forte, oportunista e que tem velocidade para sair da área e fazer jogadas pelas pontas. Talento não falta.

O problema está na defesa. Mesmo atuando algumas vezes com três zagueiros o time não consegue ter consistência atrás. Os laterais são problemas especiais. Layún e Gallardo chegam muito bem ao ataque, mas costumam deixar suas costas livres.  Em geral, o time dá muito espaço aos adversários. É um ponto em que Osorio parece estar trabalhando. No último amistoso, contra a Polônia, a equipe teve uma atitude diferente na disputa pela bola. Mas muitos de seus principais jogadores não estavam em campo.

Sistema de jogo

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Osorio usa dois sistemas: 3-4-3 e 4-3-3 e suas variantes. A diferença normalmente está na presença de um volante à frente da zaga ou de um zagueiro por trás dela. As demais posições raramente mudam. O que muda o tempo todo são os jogadores que fazem tais funções. É o jeitão do técnico colombiano. Durante uma partida os mesmos jogadores podem fazer diferentes papéis, às vezes muito distantes daquilo que costumam realizar. É a metamorfose mexicana. Dependendo da característica destes atletas o time fica mais agudo e objetivo ou mais cadenciado, valorizando a posse de bola.

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Como Osorio muda muito a escalação nada impede que ele comece o jogo com um time como este, ou mesclando este quadro com o mostrado nas ilustrações anteriores.

Normalmente o time é mais perigoso em velocidade. Apesar da boa capacidade de troca de passes, o México não faz infiltrações a partir de tabelas ou triangulações. Gira de um lado ao outro e tem muita dificuldade para entrar nas defesas adversárias. Quando encaixa um lançamento ou faz uma transição em velocidade é letal.

O “espetacular” goleiro Ochoa é mestre em defesas plásticas daquelas que fazem os narradores vibrarem. E que arrepiam o torcedor. Mas sua carreira inconsistente nos clubes por onde passou mostra que é capaz também de eventuais erros graves. No time atual ganha espaço pela capacidade de sair jogando com os pés. Embora não tenha tanta habilidade, participa muito do jogo rasteiro distribuindo passes para os zagueiros.

Onde vai?

mexico no azteca

Se Osorio conseguir maior equilíbrio defensivo o México pode fazer história. O que, para ele, significa chegar às quartas de final. Mas por quê não sonhar com as semis? Uma coisa é indiscutível: os jogos da “Tri” sempre serão emocionantes e atraentes para o espectador que gosta de ver futebol ofensivo, sem amarras, sempre buscando o ataque. Ojo!

*Mesmo veterano, Marquez estava jogando quando foi afastado neste ano ano acusado de associação ao tráfico de drogas.

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