Raízes da América: Oruro e o San José

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Foto: Google

Uma das mais altas do mundo (3.700m acima do mar), Oruro é uma típica cidade do altiplano andino. Foi fundada em 1606 pelos desbravadores espanhóis que descobriram Prata na região. A exploração da mineração é, desde então, o motivo de sua existência. E também foi motivo de um dos primeiros gritos de libertação da América. Em 1781 Sebastián Pagador liderou uma revolta contra a coroa espanhola, um movimento ainda pouco estudado pelos historiadores.

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Os mineiros tiveram apoio da empresa de mineração para a fundação do San José.

Foram os mineiros que fundaram, em 1942, o Clube San José. O Santo foi escolhido para batizar a nova agremiação pois ela surgiu no dia dele, 19 de março. O tempo passou e o azul e branco que leva no peito o “V” da vitória se transformou no principal clube da cidade, hoje com 500 mil habitantes. É o único do local na primeira divisão do futebol boliviano. E tem quatro títulos nacionais. O último deles conquistado em 2018.

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O time “Santo” joga no estádio Jesus Bermudez

Minérios e religião dão o tom na terra dos “Urus”, um povo que habita a região desde antes dos Incas e que acabou originando o nome da cidade: “Uru Uru”. E da religião nasceu a tradição do carnaval, uma das mais importantes marcas do local.

O carnaval de Oruro é Patrimônio da Humanidade, título conferido pela Unesco. São cerca de cinquenta grupos folclóricos que desfilam em direção à Igreja da Virgem de Socavón. Eles fazem várias diferentes danças e representações como a “Diablada” e a “Morenada”, um retrato da mistura cultural dos vários povos que habitam a região. Um espetáculo de música, dança e fantasias coloridas.

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Desfile de carnaval em Oruro 2019

Mas nem tudo são flores. O campeonato boliviano ficou paralisado por um mês devido à crise política que culminou com a queda do presidente Evo Morales. A coisa foi feia em Oruro, onde a casa do prefeito foi incendiada.

Estava feia também no clube, que não paga salários há cinco meses e por isso perdeu 9 pontos na tabela. Além de alguns jogadores que foram abandonando o barco ao longo do segundo semestre.

Na retomada do campeonato, entretanto, o San José conseguiu quase que por milagre a vaga na Libertadores devido a uma sequência impensável de vitórias. A classificação veio na última rodada e serviu como prêmio aos jogadores que jogaram por amor ao clube e respeito à torcida.

O pacto entre eles e a comissão técnica comandada pelo chileno Miguel Ponce terminava ali. Agora cabe ao presidente eleito no dia da classificação, Marcelo Flores, convencer todos a ficarem em Oruro para a Libertadores. Ele diz que empresas vão ajudar a quitar os salários e que vai negociar caso a caso a permanência dos heróis.

No dia 22 de janeiro o clube recebe o Guaraní, do Paraguai, pela primeira fase da competição. Se passar enfrenará o Corinthians – num duelo que não traz boas lembranças. Em 2013 fogos de artifício lançados pela torcida do clube paulista mataram o menino Kevin Espada. Pode ser uma oportunidade para que os clubes se reencontrem e tentem superar o trauma.

Há vida no alto da montanha. Há arte. E há futebol.

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