Os ecos insuportáveis de Flamengo x Liverpool

Um tema que me incomodou nos últimos dias foi a relativização do jogo entre Flamengo e Liverpool, pela final do Mundial de Clubes. Como previsto o time inglês foi campeão, mas não com a superioridade que muitos imaginavam e que a diferença de orçamento sugere.

O Flamengo jogou com personalidade e teve alguns bons momentos, especialmente no primeiro tempo. No segundo caiu de produção após as substituições. Ao longo dos cento e vinte minutos o Liverpool teve mais chances claras e se mostrou sólido na defesa, gerando muitas dificuldades para o ataque brasileiro. Mas esteve longe de ser um passeio. Tanto que o jogo terminou empatado e foi decidido na prorrogação.

Acabada a partida surgem as avaliações acerca do “interesse” do Liverpool no jogo. Algo que já acontecia antes. Todos sabem que o Mundial de Clubes não é uma competição prioritária para os europeus. Este problema é deles.

Se não interessa aos clubes de lá descer do pedestal para enfrentar os “coitados” do resto do mundo; se eles fazem isso por obrigação e com ar de quem dá uma esmola; se têm medo de mostrar que talvez o abismo não seja tão grande, estas são questões com as quais eles precisam lidar.

Para nós, sul-americanos, esta é a única possibilidade de se provar diante do futebol mais rico do planeta. Um único jogo oficial por ano e isso quando o sul-americano chega lá. Seria preciso aumentar a frequência destes jogos para que se pudesse estabelecer parâmetros mais reais.

Não é possível, portanto, medir com exatidão se realmente o Liverpool negligenciou o jogo. Se entrou em campo “com o freio de mão puxado”. O rendimento apresentado não foi o melhor que já se viu da equipe de Jurgen Klopp. Também não foi o melhor do Flamengo de Jesus. Mas isso aconteceu porquê?

Quem viu a final da Champions conquistada pelos Reds não testemunhou o futebol dos sonhos, pelo contrário. Eles estavam desinteressados quando ganharam do Tottenham num jogo ruim das duas equipes? E quando perderam por 3 a 0 para o Barcelona, no jogo de ida das semifinais? E há alguns dias, quando enfrentaram um frágil Watford e ganharam de maneira protocolar? Posso procurar vários outros exemplos de atuações inferiores, como o segundo tempo contra o Salzburg, em Anfield, na fase de grupos da atual Champions.

O Flamengo igualmente não jogou bem na final da Libertadores. Nem contra o Santos na última rodada do brasileiro. E na época eu não aceitei a desculpa de que o jogo não valia nada. Ninguém entra em campo – campeão – para se despedir do campeonato sofrendo uma goleada.

Cada partida tem a sua história. Seu momento. Seu ambiente. Seu desenvolvimento. Cada jogador tem seu dia. Cada adversário propõe um desafio diferente. Se o jogo fosse em Anfield poderia ter sido um vareio inglês. Mas se acontecesse no Maracanã? Não é possível criar conjecturas. Vimos um jogo. E ele deve ser avaliado por si. Ou, no máximo, dentro do ambiente da competição.

Uma competição em que o Liverpool teve dificuldades também contra o Monterrey. E o Flamengo com o Al-Hilal. Sim, estes clubes fizeram grandes partidas nas semifinais. Por seus próprios méritos. O futebol é global. E se desenvolve em todos os lugares. Precisamos respeitar o que o campo nos mostra. Não podemos desprezar asiáticos e mexicanos se quisermos ser respeitados pelos europeus.

Não cabe fazer comparações com situações distintas. Chegamos ao absurdo de fazer enquete comparando o duelo entre Vasco e Real Madrid, em 1998, com o jogo deste sábado. É uma vergonha comparar quem “encarou” o adversário europeu melhor, apesar da derrota. Cada jogo é um jogo. Um momento da história. É como a gente lembrar o tricampeonato do Flamengo dos anos quarenta e traçar paralelo com o de 2001. Não dá.

O Flamengo teve um 2019 brilhante. Foi muito melhor que os demais clubes brasileiros. Os resultados e os jogos mostram isso. Fez uma final de alto nível contra o campeão europeu e só perdeu na prorrogação. O resto é mimimi.

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